sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Roscotos da Rainha Che Be To a Sou




Roscotos, a poesia legislativa da rainha Che Be To A Sou*


Quando do achado do sítio arqueológico da cidade de Okifô, entre baús, utensílios, esqueletos, tapeçaria e uma infinidade de objetos fálicos dos mais diversos materiais, chamou a atenção da equipe de pesquisa uma série de escritos, encadernados intitulados ROSCOTOS DA RAINHA Che Be To A Sou.
O livro de Roscotos continha pequenos textos, cuja forma e conteúdo acabaram por ser sintetizados nesta mesma palavra. Abaixo, a explicação dada no próprio volume.
Versos escritos com fios de um broto
Cultivado na mata escura do coito
Colados com a goma que te sai do escroto

No que se entende o Roscoto como uma forma poético-plástica, pois sua realização, como uma instalação pós-moderna, requer participação direta do expectador, assim como a intervenção no objeto instalado.
Não se sabe se todos os 423 Roscotos foram registrados com matéria prima da rainha, mas testes de DNA poderão esclarecer este tópico.
Os Roscotos seguem a cartilha da arte caligráfica oriental, com caracteres cuidadosamente desenhados, um a um, com material natural. Após a descoberta e primeiros relatórios sobre os textos, a roscoteria (que é a arte de compor textos com fios de vênus colados com mel do amor) tornou-se bastante popular em alguns países, com a abertura de clubes roscotéricos, dos quais trata o blockbuster “Roscotos de amor e balas”, com Tony Ramos no papel de um vendedor de coxinhas sequestrado por maníacos roscotistas.

A tradução dos Roscotos ficou a cargo da equipe original, que levou anos para concluir o trabalho, deixando ainda o mistério maior por trás de sua função naquela sociedade.
Seriam os textos meros poemas fornicatórios? Se sim, o que explica ter sido achado o livro no palácio real, com a escritura “deem fé e façam cumprir”? Por que a forma não foi copiada por outros membros da sociedade? Seria o Roscoto uma forma poética sob monopólio do estado, mais precisamente, da rainha?
São estas e outras questões que traremos à luz, mas não tanto à luz, pois como nos ensina o Roscoto 71, também conhecido como Roscoto da imaginação viril:
Sem luz o tamanho não se sabe
Se descobre somente,
se cabe ou não cabe.

...

*Tradução do Gororobês arcaico para o português: Bruno Azevêdo

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Sobre a Rainha Che Be To a Sou (da música Spray de Pimenta do Coletivo Gororoba):

Poema do Rei Celso Borges para sua divina.


Ó tu, bela, que veio,
Sob o céu da areia clara
Onde anda a sombra de teus passos?
E tuas asas brasas?
Ó tu, das ancas de nácar, pomba de âmbar
Mil versos roubados pra te suspender no ar
E minha língua ligada em tua língua
Minha boca mole em tua embocadura/

Era uma vez uma rainha de um rei
no reino de Okifô
Uma rainha chamada Che Be To a Sou
Eu, Guebana Rei,
Vou pentear fio por fio seus pentelhos de ouro
morder seu pulso
mão de caranguejo roendo o braço do mar
morder seu traço, xiri quase xiri
entre pernas língua de bacuri/

Como um rio passas no reino, minha aldeia
Tu, minha alteza como um peixe
dentro da correnteza que passeia
Che Be To a Sou e seu corpo à mostra
pérola fora de ostra
Olho d’água que brilha e sereia
Vendo a beleza de quem te revela
Tu, rainha, sendo minha passarela/

Ei, Che Baby
Colocaram minha alma em tua boca
Quem tem boca vai a fome,
Babo, Che baby, babo
E te lambuzo com o óleo santo dos astros
São para ti os meus ombros os meus braços
Dedos em bando, lírios brancos que te rodeiam
Aqui ó, eu te corôo,
minha rainha do reino de Olorô: Che Be To a Sou

Palavra de Guebana Rei/

Eu sou mais tu do que ninguém
Eu tô é tu que não sabe disso
Ei, rainha, por onde passas tudo me guebana
Ei, tu, que bailas por aí no reino, na praça
Na boca de cena no cine entre laços de fitas, chuvas de prata,

ave che baby, cheia de graça

Spray com pimenta nos olhos
de quem me roubar os olhos de Che Be To a Sou

Ei, tu, Che Baby, Ei, honey, aqui ó
Quero te dizer uma coisa: psiu
O que tu guardas me alucina

Eu Guebana Rei,
como um sopro de teu riso, assino em baixo


São Luís, Reino de Okifô, décimo quarto dia da primeira lua das rosas vermelhas.