Roscotos, a poesia legislativa da rainha Che Be To A Sou*
Quando do achado do sítio arqueológico da cidade de Okifô,
entre baús, utensílios, esqueletos, tapeçaria e uma infinidade de objetos
fálicos dos mais diversos materiais, chamou a atenção da equipe de pesquisa uma
série de escritos, encadernados intitulados ROSCOTOS DA RAINHA Che Be To A Sou.
O livro de Roscotos continha pequenos textos, cuja forma e
conteúdo acabaram por ser sintetizados nesta mesma palavra. Abaixo, a
explicação dada no próprio volume.
Versos escritos com
fios de um broto
Cultivado na mata
escura do coito
Colados com a goma
que te sai do escroto
No que se entende o Roscoto como uma forma poético-plástica,
pois sua realização, como uma instalação pós-moderna, requer participação
direta do expectador, assim como a intervenção no objeto instalado.
Não se sabe se todos os 423 Roscotos foram registrados com
matéria prima da rainha, mas testes de DNA poderão esclarecer este tópico.
Os Roscotos seguem a cartilha da arte caligráfica oriental,
com caracteres cuidadosamente desenhados, um a um, com material natural. Após a
descoberta e primeiros relatórios sobre os textos, a roscoteria (que é a arte
de compor textos com fios de vênus colados com mel do amor) tornou-se bastante
popular em alguns países, com a abertura de clubes roscotéricos, dos quais
trata o blockbuster “Roscotos de amor e balas”, com Tony Ramos no papel de um
vendedor de coxinhas sequestrado por maníacos roscotistas.
A tradução dos Roscotos ficou a cargo da equipe original, que
levou anos para concluir o trabalho, deixando ainda o mistério maior por trás
de sua função naquela sociedade.
Seriam os textos meros poemas fornicatórios? Se sim, o que
explica ter sido achado o livro no palácio real, com a escritura “deem fé e
façam cumprir”? Por que a forma não foi copiada por outros membros da
sociedade? Seria o Roscoto uma forma poética sob monopólio do estado, mais
precisamente, da rainha?
São estas e outras questões que traremos à luz, mas não
tanto à luz, pois como nos ensina o Roscoto 71, também conhecido como Roscoto
da imaginação viril:
Sem luz o tamanho
não se sabe
Se descobre somente,
se cabe ou não
cabe.
...
*Tradução do Gororobês arcaico para o português: Bruno Azevêdo
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